Livro Dendrometria e Inventário Florestal

Carlos Pedro Boechat Soares; Francisco de Paula Neto; Agostinho Lopes de Souza

 

CENSO OU INVENTÁRIO 100%

1. Preliminares

A literatura sobre inventário florestal descreve o censo ou inventário 100% como sendo apropriado para pequenas áreas florestadas ou áreas com pequeno número de indivíduos, uma vez que a medição de muitos indivíduos (árvores) constitui atividade com grande dispêndio de tempo e com um custo muito elevado.

Mesmo sendo realizado em pequena floresta, o censo pode acarretar erros na coleta de dados. Isso se deve ao fato de que, normalmente, as florestas, sejam elas plantadas ou naturais, possuem grande número de árvores por unidade de área. Assim, embora o censo ou inventário 100% não possua erro de amostragem, devido à medição de toda a população, podem ocorrer erros de não-amostragem, os quais são de difícil detecção.

No entanto, houve uma mudança com relação à aplicação do censo ou inventário 100%, ou seja, de que ele deveria ser realizado em função do tamanho da área da floresta ou da densidade do número de árvores. A partir da publicação da Instrução Normativa nº 4, de 4 de março de 2002, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o inventário 100% com mapeamento das árvores é uma operação obrigatória nos planos de manejo equatorial, independentemente da área da floresta.

Essa Instrução Normativa se fez necessária considerando: a necessidade de ajustar os procedimentos relativos às atividades de Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo na Amazônia Legal; a necessidade de aperfeiçoar os instrumentos legais disponíveis, de forma a valorizar a vocação eminentemente florestal da região amazônica; e a necessidade de estimular modelos de uso apropriado do potencial natural da Floresta Amazônica, de forma a incrementar o desenvolvimento sustentável da região.

A realização do censo ou inventário 100% de acordo com a Instrução Normativa no 4, de março de 2002, possibilita o planejamento de todas as atividade relacionadas à proteção, preservação e conservação de árvores e de comunidades florestais, além de facilitar a fiscalização e autuação pelos órgão responsáveis.

Os dados obtidos do inventário 100%, juntamente com o mapeamento das árvores, em coordenadas UTM, integrados e proces-sados em um Sistema de Informações Geográficas (SIG), geram mapas com a localização das árvores, a infra-estrutura e o acesso à área, respec-tivamente. O uso desta tecnologia permite maior controle sobre as infor-mações, de forma a apoiar decisões de intervenções futuras na floresta.

 

2. Metodologias de inventário 100%

Freitas (2001) utilizou uma metodologia que consistiu na divisão da área destinada ao manejo florestal em talhões, sendo estes subdivididos em setores de inventário de 40 m de largura e comprimento variável, conforme forma do talhão.

De acordo com esse autor, antes do início da coleta dos dados, picadas são abertas na floresta eqüidistantes 40 m uma das outras. A cada 30 metros, ao longo de cada picada, são colocados piquetes com aproximadamente 1,20 m de altura para servir de referência às medições das coordenadas de localização (x, y) das árvores, cujos DAPs se apresentam superiores ou iguais a um diâmetro mínimo de inclusão (por exemplo: DAP ≥ 20 cm).

A forma de obtenção dos dados e de caminhamento em cada setor de inventário se deu da seguinte forma: um anotador (líder), munido de um equipamento digital de medição denominado Vertex, caminhava na picada aberta, e três pessoas faziam a varredura dentro do setor a ser inventariado, a fim de encontrar árvores com DAPs superiores ou iguais ao diâmetro mínimo de inclusão. A coordenada y de cada árvore mapeada correspondia à distância percorrida ao longo da picada e a coordenada x, à distância do líder até a árvore.

Ao término da varredura do setor de inventário, iniciava-se o inventário do próximo setor, e assim sucessivamente até completar o inventário de cada talhão.

Como exemplos de outras metodologias para a realização do inventário 100%, têm-se as relatadas nos parágrafos subseqüentes.

Fupef (1983) utilizou uma metodologia que consistiu no caminhamento dentro de faixas (setores) de floresta de 50 m por 1.000 m, em um inventário de prospecção. Sete pessoas auxiliavam as tarefas de medição do DAP, altura, identificação, planejamento e determinação da localização das árvores por meio de varredura das faixas. O rendimento da operação ficou entre 10 e 15 hectares por dia.

Amaral et al. (1998) recomendaram que a largura das faixas (setores) no inventário de prospecção não fosse superior a 50 m. Neste trabalho, o censo foi realizado com uma equipe de quatro pessoas: dois ajudantes, um identificador e um anotador. Os ajudantes percorriam as bordas da faixa (setores) de inventário, procurando árvores passíveis de serem mapeadas, enquanto o identificador e o anotador se deslocavam pelo centro da faixa. Quando uma árvore era identificada, eles mediam a distância no sentido do eixo central da faixa e a distância até a árvore, gerando, assim, as coordenadas (x, y) para o mapeamento das árvores.

No sistema Celos de Manejo, adotado nas florestas do Suriname (BODEGON e GRAAF, 1994), as subunidades, chamadas de setor de prospecção, apresentavam dimensões de 40 m por 250 m (1 ha). Os membros da equipe de campo (cinco pessoas) posicionavam-se eqüidistantes 10 m uns dos outros, e, ao sinal do líder, a equipe se locomovia no sentido do maior comprimento (250 m), fazendo uma varredura no setor. Quando uma árvore comercial era identificada, a equipe parava, e os dados da árvore eram informados ao líder, que também anotava a distância percorrida em um eixo x e a distância até o ajudante (eixo y). Essa operação se repetia até que todas as árvores do setor fossem mapeadas e medidas. Terminado um setor, a equipe de campo começava outro setor, e assim sucessivamente até a realização do mapeamento das árvores comerciais na floresta. Uma equipe bem treinada podia realizar a varredura em uma área entre 20 e 25 hectares em um dia.

 

3. Referências Bibliográficas

AMARAL, P. et al. Florestas para sempre: um manual para a produção de madeira na Amazônia. Belém, PA: IMAZON, 1998. l37 p.

BODEGON, A.J.; GRAAF, N.R. van de. Sistema Celos de Manejo. Wageningen, Holanda: IKC naturbeheer/LNV - Centro Nacional de Referência para a Natureza, Florestas e Paisagem, 1994. 58 p.

FREITAS, L.J.M. Inventário de prospecção e otimização da colheita visando a sustentabilidade do manejo de uma floresta estacional semidecidual sub-montana. Viçosa, MG: UFV, 2001, 129 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

FUPEF – Inventário comercial de um bloco de exploração na Floresta Nacional do Tapajós. Curitiba: FUPEF - Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, 1983. 234 p. (Relatório Técnico).

 

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